Recordo-me do tempo em que os hotéis tinham uma equipa estável que normalmente se mantinha durante longos anos e poucas eram as vagas que se colocavam à disposição no mercado.
Encontrar um emprego na hotelaria era algo difícil e muito valorizado, já que trabalhar num hotel era um verdadeiro privilégio e até dava direito a uma carteira profissional. A alimentação incluída e as gorjetas compensavam largamente os pouco apetecíveis salários. Rapidamente este cenário mudou. O ritmo de construção e de abertura de hotéis originou uma verdadeira “guerra pelo talento”, já que quem entrasse de novo no mercado só com salários mais altos e oferecendo benesses conseguiria seduzir potenciais candidatos.
As grandes cadeias internacionais desde cedo entenderam que para otimizar os custos do pessoal a fórmula ideal seria colocar o pessoal da casa para as necessidades diárias e o trabalho temporário/extras para picos de ocupação e banquetes. A realidade hoteleira seguiu essa tendência e a contratação de pessoal temporário e extras tornou-se prática comum. Multiplicaram-se as empresas de trabalho temporário com negociações ao cêntimo e prazos de pagamento dilatados e o recrutamento tornou-se massificado, para cobrir vagas em quadros de pessoal por si só mínimos, assim como faltas e baixas.
Os critérios de exigência dos hotéis solicitando formação, experiência, boa imagem e atitude não encontravam paralelo no perfil das pessoas recrutadas, algumas oriundas de regiões do país menos turísticas ou mesmo de outros países. A absorção de refugiados, migrantes e toda a categoria de pessoas sem conhecimento da língua portuguesa nem formação ou experiência comprometem a qualidade de serviço pelo que somos conhecidos pelos nossos turistas.
A pandemia arrasou sem piedade a maioria destas pessoas, já que foram as primeiras a serem dispensadas e grande parte foi para o desemprego. Como todos sabemos, muitas dessas pessoas nunca mais voltaram e preferiram outros setores muito mais “sexy”, que permitem conciliar a vida profissional com a pessoal, auferir um salário igual ou mais alto e obter maior reconhecimento social.
Atualmente, vários setores levam muito a sério o employee experience e, num mundo global onde o talento é escasso, o desafio está em manter as equipas estáveis e motivadas. Reflitamos:
Dados da OECD dizem-nos que em 2021 Portugal tinha 16.9% de trabalho temporário, 16.7% trabalho por conta própria, e 4.9% de trabalho em tempo parcial. Cabe-nos ser criativos e pensar estratégias de captação de pessoas — aliás, como já o temos conseguido para os clientes.
Afinal, não é a mesma coisa?
Conteúdo adaptado do artigo publicado na revista “Publituris”, Edição de Julho/Agosto 2022 na página 30.
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